Os solos, subestimados nas análises ambientais até um passado recente, são a base fundamental dos ecossistemas terrestres e desempenham papel crucial na manutenção dos ciclos naturais. Felizmente, tem aumentado consideravelmente o volume de publicações sobre benefícios do solo para a resiliência climática, especialmente sobre sua biologia e biodiversidade. Uma dessas publicações, o Atlas do Solo da Heinrich-Böll-Stiftung, divulgou importantes resultados recentemente. Por isso, destacamos a interconexão entre a saúde do solo, práticas sustentáveis e os desafios contemporâneos que afetam este recurso vital.
O solo é muito mais que um suporte físico para as plantas — é um ecossistema vivo e diversificado que regula nutrientes, água e clima. Sua composição variada de minerais, matéria orgânica e microrganismos cria um ambiente que sustenta toda a biodiversidade terrestre. Como o solo não é renovável em escala de tempo humana, sua preservação é urgente. Um solo saudável atua como proteção natural contra as mudanças climáticas, armazenando carbono e regulando o ciclo da água, o que previne secas e inundações.
A degradação e desertificação global dos solos são reflexos de práticas humanas insustentáveis, especialmente da agricultura intensiva e do uso excessivo de fertilizantes sintéticos. Essas práticas não apenas esgotam a fertilidade do solo, mas também ameaçam a segurança alimentar e o bem-estar das comunidades, principalmente em regiões vulneráveis da África e outras áreas em desenvolvimento. A situação agrava-se com a ausência de políticas eficazes e o domínio crescente das corporações agroindustriais que, ao incentivar o uso de produtos químicos, priorizam lucros imediatos em detrimento da saúde ambiental e social.
O manejo sustentável do solo emerge como necessidade global, com práticas regenerativas e agroecologia oferecendo alternativas viáveis. Essas abordagens restauram a saúde dos solos e ajudam a minimizar os impactos das mudanças climáticas, criando sistemas agrícolas mais resilientes. O sucesso dessas práticas está diretamente ligado à proteção dos direitos à terra, especialmente para as mulheres, e à promoção da justiça social.
Na tensão entre a necessidade de terra para práticas sustentáveis e os direitos humanos, é fundamental buscar soluções duradouras que incorporem perspectivas equitativas e inclusivas. O atlas mostra como questões ecológicas, econômicas e sociais se entrelaçam, exigindo uma abordagem integrada. A revitalização global do solo é, portanto, mais que uma questão ambiental — é uma jornada crucial rumo a um futuro sustentável e justo para todos.
O que diz o ATLAS (capítulos)
1. Solo do Ecossistema: A Base da Vida
2. Degradação do Solo: A Crise Global Silenciosa
3. Desertificação: A Europa Está Secando
4. Adaptação Climática: Solo e Água, Uma Simbiose Crucial
5. Poder Corporativo: Quando os Culpados se Beneficiam
6. Fertilizante de Nitrogênio: Dependências Globais
7. Fósforo: Agricultura Extrativista
8. Fertilizantes Verdes: Não é uma Solução Rápida
9. Acorrentamento de Terras: A Corrida pelos Hectares
10. Vendas de Terras: Apenas Mais uma Commodity?
11. Conflitos de Política Climática Entre a Demanda por Terras e os Direitos das Pessoas
12. Créditos de Carbono do Solo: Bênção ou Maldição?
13. Direitos Humanos: Direitos versus Realidade
14. Mulheres e Terras: Protegendo Direitos, Protegendo o Solo
15. União Europeia: Proteção do Solo? Desejada!
16. Agroecologia: Políticas que Mantêm o Solo Vivo
17. Custos Reais: Efeitos Ocultos
18. Restauração Sustentável do Solo: Revitalizando os Solos da Índia para um Futuro Melhor
19. Re-verdeando o Deserto: Restauração de Terras e Solos no Saara e no Sahel
20. Agricultura Sem Solo: Revolução ou Ilusão?
Livro
Heinrich-Böll-Stiftung. (2024). Atlas do Solo: A crise silenciosa e a importância da saúde do solo para o futuro sustentável. Heinrich-Böll-Stiftung. Disponível em: https://eu.boell.org/en/SoilAtlas