Um estudo publicado na Revista Ciência Florestal de Santa Maria, em 2011, oferece uma análise aprofundada sobre os impactos do uso do fogo no solo. Este estudo revela que os efeitos das queimadas vão muito além das visíveis alterações na atmosfera, atingindo diretamente os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, os quais podem levar anos ou até décadas para serem restaurados.
Impactos na Atmosfera vs. Solo
Embora se discuta amplamente os efeitos atmosféricos das queimadas – como o aumento da temperatura, a emissão de gases de efeito estufa e a diminuição da capacidade de sequestro de carbono – o solo, essa riqueza invisível, sofre modificações profundas que comprometem sua estrutura e fertilidade.
Alterações Físicas no Solo
O fogo pode causar diversos danos físicos, tais como:
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Redução de Macroporos e Agregados: Diminuição do volume de macroporos e do tamanho dos agregados, comprometendo a estrutura do solo.
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Menor Infiltração de Água: Redução da taxa de infiltração, o que diminui a umidade do solo.
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Aumento da Densidade: Elevação da resistência à penetração das raízes e maior densidade do solo.
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Susceptibilidade à Erosão: A remoção da cobertura vegetal deixa o solo mais exposto à erosão.
Alterações Químicas no Solo
Diversos estudos apontam que o fogo pode alterar os atributos químicos do solo:
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Liberação de Nutrientes: A queima pode aumentar os teores de nutrientes como N, P, K, Ca e Mg devido à concentração nas cinzas.
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Problemas de Disponibilidade: Esses nutrientes são liberados em alta quantidade em curto período, sendo pouco aproveitados pela biota decompositora, o que, a médio prazo, leva à lixiviação dos mesmos.
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Redução da Matéria Orgânica: O fogo diminui o aporte de matéria orgânica e altera o ciclo do carbono, contribuindo para a emissão de gases de efeito estufa.
Alterações Biológicas no Solo
Os impactos do fogo afetam diretamente a vida do solo:
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Redução da Disponibilidade de Alimento: O fogo diminui os recursos alimentares para os micro-organismos, afetando especialmente a mesofauna do solo (minhocas, formigas e outros invertebrados).
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Comprometimento dos Processos Biológicos: A perda desses organismos impacta a aeração, a drenagem, a decomposição da matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes, resultando em menor decomposição orgânica e maior compactação do solo.
Conclusão: A Importância de Práticas Regenerativas
Com base nos estudos revisados, conclui-se que o uso do fogo, seja em pastagens, campos naturais, resíduos culturais ou áreas florestais, deve ser evitado como prática rotineira, pois degrada o solo direta ou indiretamente. No entanto, dependendo do sistema de produção, o fogo pode ser considerado como uma opção de manejo, desde que aplicado com cautela.
Portanto, é crucial adotar alternativas sustentáveis e práticas ecologicamente responsáveis para o manejo do solo. Na HIFA, desenvolvemos unidades demonstrativas de agroflorestas biodiversas e aplicamos o indicador de qualidade evolutiva (IQSAF) para aprimorar os manejos regenerativos e aumentar a matéria orgânica do solo.
Leia o original aqui. Texto de REDIN, M, da Ciência Florestal, Santa Maria, v. 21, n. 2, p. 381-392, abr.-jun., 2011.
Referências
REDIN, M. et al. Impactos da queima sobre atributos químicos, físicos e biológicos do solo. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 21, n. 2, p. 381-392, abr.-jun., 2011.